Fonte:
Folha de S.
Paulo
Data da publicação: 07/07/09
Reduzir estômago aumenta risco de fratura e de cálculo
Data da publicação: 07/07/09
Reduzir estômago aumenta risco de fratura e de cálculo
FERNANDA BASSETTE
CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S. Paulo
CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S. Paulo
Pessoas que fazem cirurgia de redução de estômago possuem
quase duas vezes mais risco de ter pedra nos rins e de sofrer fraturas
relacionadas à deficiência de cálcio e de vitamina D no organismo, revelam novos
estudos nas áreas de endocrinologia e de urologia.
Um dos trabalhos, com 9.278 pessoas, foi publicado no
"Journal of Urology". Durante cinco anos, pesquisadores da Johns Hopkins
University avaliaram 4.639 pacientes que fizeram a cirurgia e compararam com
número idêntico de obesos que não se submeteram à redução de estômago.
Eles observaram que 7,65% daqueles que fizeram a cirurgia
foram diagnosticados com pedra nos rins, enquanto apenas 4,63% das pessoas do
grupo controle tiveram o problema.
Segundo o urologista José Carlos de Almeida, presidente da
Sociedade Brasileira de Urologia, o aparecimento de cálculos renais foi
discutido no último congresso americano de urologia, pois a cirurgia bariátrica
passou a apresentar problemas que antes não eram conhecidos pelos especialistas.
"Esse estudo trouxe à tona uma informação que não existia
de forma clara. Percebíamos que havia um aumento no número de casos, mas não
tínhamos como afirmar que existia essa relação", diz.
De acordo com Almeida, a formação das pedras acontece
porque a cirurgia de redução do estômago altera o metabolismo e aumenta o nível
de oxalato no organismo. O oxalato é um elemento importante na formação dos
cálculos renais -cerca de 90% das pedras são formadas por ele.
Além disso, Almeida diz que as cirurgias bariátricas também
diminuem a absorção de magnésio e de citrato -duas substâncias que ajudam no
processo de diluição do oxalato. "Todas as pessoas têm cristais de cálcio na
urina. Se elas não tiverem magnésio e citrato em quantidade suficiente, elas
poderão formar cálculos", avalia.
Thomaz Szegö, presidente da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Bariátrica, diz que a possibilidade de formação de cálculos é um dos
principais incentivos para que os pacientes se mantenham hidratados. "Durante a
perda intensa de peso, o metabolismo se altera. Se o paciente consegue manter o
fluxo renal adequado [bebendo bastante água], é possível prevenir o aparecimento
das pedras."
Fraturas
Os pacientes que se submetem a cirurgias bariátricas também
têm quase duas vezes mais risco de sofrer fraturas, especialmente de pés e de
mãos. Os resultados, ainda preliminares, vêm de um novo estudo apresentado no
congresso da Sociedade Americana de Endocrinologia, no mês passado.
Os pesquisadores selecionaram 142 pessoas que fizeram
cirurgia bariátrica de 1985 a 2004 nos EUA. Foram avaliados o tipo de cirurgia,
estilo de vida e condições nutricionais. Depois, foram analisados as datas e
locais da fratura e os mecanismos que a provocaram.
"Nós já sabíamos que há uma dramática e extensa perda óssea
após a cirurgia bariátrica, mas não sabíamos o que isso significava em termos de
fratura", afirmou Jackie Clowes, uma das autoras do estudo.
As pessoas foram acompanhadas durante seis anos. Nesse
período, 36 sofreram 53 fraturas, a maioria delas nos braços e nos pés. Também
foram relatadas fraturas no quadril, na espinha dorsal e no úmero. "O aumento da
incidência de fraturas não é um fenômeno que ocorre logo após a cirurgia, mas
sim anos depois."
O estudo não aponta, porém, quais os mecanismos envolvidos
na maior incidência de fraturas. De acordo com Marise Lazaretti Castro,
presidente da regional paulista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, a
hipótese que poderia explicar as fraturas a longo prazo é o fato de haver, após
a cirurgia bariátrica, deficiências graves de vitamina D e cálcio. "As pessoas
começam a ter diarreias, têm menos absorção dos nutrientes", afirma a médica.
Castro diz que existem opções para contornar o problema. "O
paciente tem que fazer a reposição desses nutrientes [que são menos absorvidos].
E não pode jamais abandonar o tratamento", alerta a médica.
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